Um recall de airbag serve para sanar defeitos de fabricação e serve para proteger e preservar a vida, a saúde, a integridade e a segurança do consumidor
Quando a indústria detecta algum problema de qualidade no produto que já está à venda no mercado e, se esse problema pode resultar em danos físicos ao consumidor, as boas práticas determinam um recall, um chamamento público para que todos os proprietários compareçam à assistência técnica para realizar o reparo ou troca do produto.
Muitos recalls são voluntários, porém pode ser que sejam determinados pela justiça caso o fabricante se negue a fazer. Um exemplo foi o recall do sistema de rebatimento do banco traseiro do VW Fox, em 2008, que decepava dedos. A montadora relutou por anos a realizar o recall, até que foi obrigada pela justiça.
Alguns defeitos são mais sérios, e podem resultar em morte. O mais famoso de todos é o de airbags, que foram detectados no início do século 21 e resultou no maior recall da história mundial da indústria automotiva, com a convocação de mais de 30 milhões de veículos no planeta e a falência da empresa, que acabou sendo adquirida pela principal concorrente.
Fazer o recall dos airbags é muito importante, pois há relatos de mortes causadas pelo dispositivo, inclusive no Brasil. E isso é uma contradição, pois foram desenvolvidos justamente para salvar vidas. A importância da troca é tanta que a Chevrolet iniciou em 2020 uma campanha de recall remunerado, com sorteio de três carros zero-quilômetro.
Ainda que para muitos brasileiros a vida é algo que não se dá o devido valor (até estar em risco), para as empresas do setor automotivo sai mais barato sortear carros do que pagar muitas e indenizações na justiça.
A promoção da Chevrolet não começou à toa. Em janeiro de 2020, o motorista de um Celta 2013/2014 morreu em Aracajú (SE) vítima do airbag. Esta foi a segunda vítima fatal no Brasil, que já contabiliza ao menos 70 acidentes com estes airbags defeituosos.
Até este episódio, a Chevrolet afirma que não tinha conhecimento de casos de airbags problemáticos no Brasil envolvendo veículos da marca. Tanto que nem havia convocação de recall para o modelo. Depois de ser ameaçada com multa de R$ 10 milhões, resolveu agir. Convocou 235.844 unidades de Celta e Classic fabricados entre 2012 e 2016, e, desde abril de 2021, oferece vale-combustível no valor de R$ 500 para quem realizar o recall, além do sorteio de três Chevrolet Onix zero-quilômetro.
Afinal, qual é o problema desses airbags? Já está comprovado que o problema é causado por uma peça chamada deflagrador, um recipiente de metal com um componente químico dentro dele que explode e gera o gás necessário para inflar o airbag, de forma rápida, mas controlada.
Esse agente químico gerador de gás é o nitrato de amônio, que não é o produto mais recomendado, mas é o de menor custo. Além de custar menos, é mais instável e necessita a adição de um agente dissecante para controlar a umidade, para tornar o uso mais seguro. Ocorre, porém, que o imenso lote defeituoso foi produzido sem esse agente dissecante, assim, com o passar do tempo, a umidade do ar acaba deteriorando o nitrato de amônio, o que o torna excessivamente explosivo.
Assim, quando o motorista sofre um acidente que demanda o uso do airbag, o nitrato de amônio dentro do deflagrador explode de forma violenta e descontrolada, rompe a cápsula de metal e projeta diversos estilhaços em direção aos usurários do veículo, tal como uma bala de revólver. Dependendo do tamanho do estilhaço e parte do corpo que atinge pode matar.
A ausência do dissecante torna, portanto, os veículos com airbag defeituosos que rodam em áreas de alta umidade mais perigosos, e o fator de risco aumenta em carros com idade a partir de 15 anos. Quem mora no litoral ou locais muito úmidos, deve, assim, atender ao recall sem falta.
Tudo começou em um carro da Honda, em 2004. Mas, somente em 2008 a marca fez o primeiro recall, nos Estados Unidos, sem mencionar o nome do fabricante de airbags, que ficou conhecido apenas em 2014. Isso preocupou toda indústria automotiva, que passou a temer o pior: outras montadoras além da Honda poderiam ter sido afetadas.
Dito e feito. Mais de 30 montadoras foram afetadas no mundo, comprometendo mais de 100 milhões de unidades de airbags. Aqui no Brasil, ao menos 16 convocaram recall de airbag, o que soma 4.352.428 veículos, em 73 campanhas. Números gigantes e gritantes.
O caso é tão emblemático que nos Estados Unidos existe até uma página exclusiva no site da National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), órgão norte-americano responsável pela segurança no trânsito. Aqui no Brasil o documento do carro (CRLV – Certificado de Registro e Licenciamento do Veículo) passou a informar se o recall foi atendido, para que o próximo proprietário do veículo tenha conhecimento da necessidade de troca de algum componente defeituoso.
Além disso, desde abril de 2021, com as alterações da nova lei de trânsito, veículos com recall aberto e não atendido em prazo superior a um ano têm o licenciamento bloqueado e a inclusão de restrição no CRLV.
Até março de 2021, já foram registrados 70 acidentes com os airbags, sendo que dois resultaram em mortes, o já citado caso do Celta, em Aracajú, e, antes dele, em fevereiro de 2020, o motorista de um Honda Civic 2008 morreu no Rio de Janeiro, após bater o carro e o airbag explodir sobre ele.
Nesse primeiro caso, no entanto, o Civic tinha um aviso de recall desde 2015, mas o motorista não atendeu ao chamado. Dos 4,3 milhões de veículos chamados para recall do airbag no Brasil, menos de 2 milhões já realizaram o procedimento de troca.
Para saber se o seu carro tem chamado ativo de recall, basta acessar o site da montadora e buscar o link Recall e digitar o número do chassis, ou ainda entrar em contato com o SAC da montadora, pelo 0800.
Fonte: https://blog.nakata.com.br/